Numa longa e profícua penitência pelos devaneios maoístas e estalinistas da juventude, Nuno Crato atira-se aos sindicatos de professores, acusando-os de serem soviéticos.
A verdade é que Crato di-lo, integrado num projecto de criminalização das lutas dos trabalhadores e dos sindicatos, ferramenta necessária para aprofundar os ritmos de expoliação dos bens públicos para os bolsos dos ricos e grandes grupos económicos, que forçam, a níveis impensáveis, a exploração, potenciando a exclusão de centenas de milhares de um mercado de trabalho onde predomina a super-exploração, o empobrecimento e proletarização acelarada, e que só poderá sobreviver através da supressão das organizações dos trabalhadores e do aumento significativo da repressão estatal.
Na sua “coutada” conta com a imbecilidade de Associações de Estudantes, amorfismo de estudantes, professores e trabalhadores da Educação e, paradoxalmente, com sindicatos que poderão ser tudo menos soviéticos. Pelo menos no seu conceito inicial, mas na verdade, nem no conceito deturpado que lhe foi associado a partir de meados dos anos 20 do século passado.
Se o ataque de Crato visa pôr na defensiva quem não tem ainda argumentos e propostas para defender a ideia soviética, a verdade é que Crato poderá bem vir a ter medo, e muito medo, se os trabalhadores – sejam eles professores ou outros quaisquer – recuperarem para o seu património a ideia soviética de conselhos democráticos de luta e unidade para organizar e dirigir a acção comum dos proletários.
Com a “concertação social“ desbaratada com a gula e fundamentalismo dos sectores mais reaccionários da classe dominante, nem mesmo a UGT, tradicional aliada do Capital na colaboração de classes, está imune e poderá impunemente subscrever tudo o que o patronato lhe impõe.
Também a CGTP vive num panorama preocupante de amorfismo das bases sindicais e muitas direcções sindicais que vacilam entre a determinação e o “realismo político”. A falta de um programa de luta claro e comummente aceite, popularizado entre os trabalhadores, que rejeite a austeridade e organize ofensivamente a massa dos trabalhadores pelo derrube do governo e por um governo de trabalhadores reforça processos de divisionismo, e estratégias conflituantes de projectos sindicais em torno de dirigentes e não da luta. Ao mesmo tempo, largos sectores de trabalhadores, nomeadamente os desempregados e os precários estão à margem de qualquer tipo de organização e acção comum.
Contundo, surgem vislumbres de um sindicalismo mais combativo, que se reconstrua nos locais de trabalho mas se articule, em solidariedade e acção comum, a nível local, distrital e nacional.
Crato queria amedrontar. Mas talvez muitos trabalhadores peguem na ideia de sovietizar a luta.
(desenho do blog http://urbansketchers-portugal-norte.blogspot.pt/)